O ministro do Petróleo da Arábia Saudita disse que os preços poderão cair para até US$ 50 o barril se os chamados “trapaceiros” dentro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) não cumprirem os limites de produção combinados pelo grupo. A informação foi divulgada ontem por delegados da organização dos países exportadores
As declarações foram interpretadas por outros produtores como uma ameaça velada de Riad, de que estaria disposta a lançar uma guerra de preços para manter sua participação de mercado se outros países não cumprirem os acordos do grupo, segundo os delegados.
Os principais membros da aliança que reúne os principais exportadores de Petróleo e seus aliados concordaram ontem em uma reunião online em começar a elevar a produção a partir de dezembro deste ano.
Os preços de referência do petróleo subiram ontem, com o contrato mais negociado para Brent avançando 1,9% para pouco menos de US$ 75 o barril. A referência global do petróleo subiu nos últimos três dias, refletindo as preocupações de ruptura na oferta diante do conflito no Oriente Médio.
Há temores no Ocidente de que uma guerra mais ampla possa sufocar as exportações de petróleo do Golfo Pérsico que passam pelo Estreito de Ormuz, que faz fronteira com o Irã, e elevar os preços.
Mas as tensões geopolíticas persistem há meses sem um efeito significativo sobre os preços do petróleo, e as quedas têm sido frustrantes para as autoridades sauditas, em parte porque outros membros do grupo têm ignorado os planos de limitar a produção durante boa parte deste ano.
Em uma teleconferência na semana passada, o príncipe Abdulaziz bin Salman, ministro do Petróleo da Arábia Saudita, alertou os demais membros da Opep que os preços poderão cair para US$ 50 o barril se eles não cumprirem os cortes de produção acertados, segundo delegados da Opep que participaram da teleconferência.
O príncipe destacou o Iraque, que produziu um excesso de 400 mil barris/dia em agosto, segundo a provedora de dados S&P Global Ratings, e o Cazaquistão, cuja produção deverá aumentar, com o campo de Tengiz voltando a produzir 720 mil barris/dia.
A mensagem saudita foi que “não há sentido em produzir mais barris se não houver espaço para eles no mercado”, disse um delegado. “Alguns deveriam calar a boca e respeitar seus compromissos com a Opep+.” O Ministério do Petróleo saudita não respondeu a um pedido para comentários.
Em um comunicado à imprensa, a OPEP disse que a aliança havia discutido planos para o Cazaquistão, a Rússia e o Iraque fizessem a reparação pela produção acima das cotas. Segundo o texto, esses três países disseram que estavam respeitando seus compromissos em setembro.
“Se eles conseguirem controlar os trapaceiros, há uma pequena chance de que isso não impacte muito os preços. Mas isso é um grande se”, disse Ole Hansen, chefe de estratégia de commodities do Saxo Bank. “Isso se baseia na suposição de que os países que estão produzindo demais vão cortar o excesso. Ainda estou cético.”
Os preços do petróleo têm caído nos últimos meses, perdendo cerca de 12% no último trimestre. Isso ocorre apesar dos esforços da Opep+ para estabilizar os mercados via corte de produção. O grupo prorrogou essas restrições várias vezes e mesmo assim os preços continuaram em queda.
Os cortes de produção do grupo significam que sua parcela no mercado caiu. Este ano, chegou a 48%, número que era de 50% em 2023 e 51% em 2022, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). A competição deverá aumentar ainda mais no ano que vem.
Os aumentos de produção planejados nos Estados Unidos, Guiana e Brasil deverão adicionar mais de 1 milhão de barris por dia à oferta global de petróleo. O Brasil ingressou na Opep+ neste ano, mas disse que não vai participar dos cortes na produção.
Alguns membros do cartel que concordaram com os cortes bombearam mais barris do que prometeram, tornando as restrições de fornecimento menos eficazes. Além do Iraque e Cazaquistão, a Rússia também produziu mais do que sua cota este ano até julho, segundo a S&P Global.
Apesar do aumento das tensões geopolíticas, os preços estão estagnados abaixo de US$ 75 o barril — menor valor em nove meses —, em grande parte devido à desaceleração do crescimento econômico.
A Arábia Saudita necessita de preços a US$ 85 por barril para financiar sua transformação econômica, segundo analistas.
A Arábia Saudita mostrou no passado que consegue retomar a produção se sentir que outros produtores estão se aproveitando de seus esforços para sustentar os preços. O país iniciou uma guerra de preços com a Rússia em março de 2020. A decisão do país de produzir a níveis recordes em meio à pandemia de covid-19 levou à uma queda trimestral de 65% no preço do petróleo para o menor nível em 17 anos, com alguns preços nos EUA ficando negativos pela primeira vez.
Outra medida da Arábia Saudita para aumentar a produção e punir outros membros levou a um colapso nos preços do petróleo para menos de US$ 10 o barril em 1986.
Benoit Faucon, Summer Said e Anna Hirtenstein – Dow Jones